Empreendedorismo ou sobrevivência: uma análise das motivações para se empreender no Polo de Confecções do Agreste de Pernambuco
Entrepreneurship or survival: an analysis of motivations for the entrepreneurial process in the Agreste de Pernambuco Confection Polo
VIRGÍNIA CONCEIÇÃO VASCONCELOS CARNEIRO
Universidade Federal de Campina Grande, Brasil
Resumen
Este artigo tem como objetivo analisar as motivações para se empreender no Polo de Confecções do Agreste de Pernambuco, considerando para tanto, a relação entre esse processo e o contexto de alta informalidade, trabalho precário por um lado e dinamismo econômico, geração de renda e crescimento econômico por outro, verificados no Polo. Parte-se do pressuposto de que esses fatores que estruturam essa Economia Popular, atuam incidindo sobre a decisão de empreender e busca-se com essa investigação mostrar que o empreendedorismo nesse espaço tanto se confunde e camufla com o trabalho precário que permeia a maior parte das relações de trabalho no Polo, como representa valores culturais que refletem uma visão positiva sobre a capacidade do Polo em gerar emprego, renda e negócios.
Palabras clave: empreendedorismo; polo de confecções; informalidade; trabalho precário; empresário de si mesmo.
Abstract
This article aims to analyze the motivations to undertake in the Polo de Confecções do Agreste de Pernambuco, considering the relationship between this process and the context of high informality, precarious work on the one hand and economic dynamism, income generation and growth economic on the other, verified in the Pole. It starts from the assumption that these factors that structure this Popular Economy, act influencing the decision to undertake, and this investigation seeks to show that entrepreneurship in this space is both confused and camouflaged with the precarious work that permeates most of the working relationships at the Hub, and represents cultural values that reflect a positive view of the Hub's ability to generate employment, income and business.
Keywords: entrepreneurship; clothing pole; Informality; precarious work; self-employed.
O estudo sobre empreendedorismo no Polo de Confecções do Agreste de Pernambuco deve considerar a história desse aglomerado, a qual indica que os atores locais já apresentavam características empreendedoras desde o primórdio, visto que o Polo surge da iniciativa, criatividade e coragem dos atores locais que criaram uma nova atividade econômica para garantir a subsistência sem o apoio do poder público ou de atores externos (Andrade, 2008; Cabral, 2007; Freire, 2016; Pereira, 2011; Véras De Oliveira, 2013; Xavier, 2006). O Polo de Confecções do Agreste fica localizado do Agreste Setentrional de Pernambuco, é um aglomerado produtivo composto por mais de 10 cidades, dentre as quais se destacam as cidades pioneiras na produção de roupas: Santa Cruz do Capibaribe, Caruaru e Toritama. O Polo gera mais de 100 mil empregos, possui 18.803 empresas de confecção e atua com um índice de informalidade de 80%. Esse aglomerado surgiu na década de 50 devido as condições climáticas adversas que impossibilitaram a continuidade da agricultura como atividade econômica principal e ao longo do tempo expandiu a produção, modernizou os processos de produção e comercialização e atualmente é estruturado com centros comerciais grandiosos, escoa sua produção para todo o Brasil e é referência nacional na confecção de artigos de vestuário e na geração de emprego e renda (Sebrae, 2013).
O desenvolvimento do Polo, por sua vez, reforçou essas características empreendedoras e fez surgir valores culturais compartilhados que concebem o empreendedorismo como fator positivo que retrata a busca por autonomia, liberdade, protagonismo, ascensão, fatores citados como ideal de vida dos atores locais. A dinâmica principal de organização do trabalho no Polo, por ser alicerçada na produção familiar, domiciliar, mediante relações informais, acaba retroalimentando esses valores por criar relações de parentesco e amizade, as quais favorecem a disseminação de exemplos positivos, possibilitam o compartilhamento de conhecimentos e funcionam como redes onde os atores locais podem se apoiar para criarem seus negócios. Além dessas dinâmicas próprias, o Polo assimila e se adequa a questões externas, existindo, portanto o movimento de tensão, conformação e adaptação entre sociabilidades locais e fatores externos (Véras de Oliveira, 2013). Nesse aspecto, é prudente dizer que o ato de empreender sofre influências também das demandas de mercado, dos desdobramentos do capitalismo. Nas trajetórias empreendedoras analisadas é possível perceber, portanto, a influência desses aspectos das sociabilidades do polo e das influências externas.
Esse trabalho analisa as motivações para se empreender no Polo de Confecções do Agreste de Pernambuco partindo do pressuposto de que tal processo perpassa necessariamente as vivências dos atores locais em um contexto de alta informalidade e trabalho precário. Nesse sentido, assume-se que esses fatores exercem influência na decisão de se empreender. Nesse contexto, parte-se da premissa de que os valores culturais construídos nas sociabilidades locais também interferem, influenciam e incentivam o empreendedorismo, visto que tais valores estão alicerçados na ideia de dinamismo econômico, geração de renda e crescimento econômico verificados no Polo. Para tanto, além das entrevistas, que captaram as percepções e sentidos que os atores locais dão ao processo empreendedor, foi feita análise teórica sobre estudos que analisaram esse processo no Polo.
Para responder ao objetivo proposto, foi feita uma abordagem metodológica que contemplou revisão bibliográfica, entrevistas com diferentes perfis de empreendedores, análise de dados secundários como reportagens sobre o tema no locus de investigação e análise de conteúdo dos achados da pesquisa. As entrevistas foram realizadas na modalidade presencial e também mediante tecnologias digitais para atender aos protocolos sanitários devido a Covid-19. Ao todo foram entrevistados 10 empreendedores da cidade de Santa Cruz do Capibaribe – PE. Os entrevistados são microempreendedores, sendo 7 informais e 3 formais. O trabalho de campo começou em maio de 2021 e foi finalizado em julho do mesmo ano.
Os resultados indicam a existência de três motivações principais para se empreender no Polo, que são: a adoção do discurso de empreendedor de si mesmo, o ato de empreender devido a questões estruturais como trabalho precário e informalidade e o empreendedorismo como valor que reflete as sociabilidades dos atores locais e seu ideal de vida, que preconiza autonomia, liberdade, protagonismo e ascensão. Os resultados indicam também que a assimilação dos valores culturais é a motivação principal, a qual é refletida nas escolhas práticas das pessoas que assimilam a criação de um negócio como um caminho mais viável para acesso a trabalho, obtenção de renda e ascensão social e que essas motivações se inter-relacionam.
Polo de Confecções: Informalidade, trabalho precário e a criação de negócios
formação do Polo de Confecções do Agreste de Pernambuco foi um processo endógeno, proveniente das dinâmicas de luta por sobrevivência que os atores locais engendraram para criarem condições de subsistência em meio a um cenário de economia periférica, sem políticas públicas nem apoio de instituições de fomento à economia local. (Freire, 2016; Pereira, 2011; Véras De Oliveira, 2011).
O surgimento da atividade de confecções se insere nesse contexto como um processo proveniente do esgotamento da agricultura devido às condições climáticas adversas. Foi um processo portanto, circunscrito às sociabilidades dos atores locais, que tiveram que criar sozinhos uma nova atividade econômica para sobreviver (Andrade, 2008; Cabral, 2007; Xavier, 2006). Nesse cenário, os atores locais se utilizaram de fatores que favoreceram o empreendedorismo, como iniciativa, coragem e persistência. Nesse sentido, é coerente afirmar que tais atributos estão presentes no Polo desde seu surgimento, e é justamente a proliferação desses atributos de geração em geração, de década em década, que estimula e consolida o Polo como um espaço de dinâmicas empreendedoras. Sobre esse protagonismo local que incitou e consolidou o empreendedorismo como marca distintiva do Polo, Véras de Oliveira (2011) enfatiza: "o surgimento do Polo só foi possível porque contou com a iniciativa, a perseverança e a criatividade de homens e mulheres pobres (poucos no início, cada vez mais, na sequência e milhares, atualmente"). E como reforça Milanês (2019):
[...] o surgimento da Sulanca não acontece “do nada”, nem é calcado na “espontaneidade”, como já foi reproduzido em alguns debates acadêmicos, mas, ao contrário, são a partir das diversas “experiências” constituintes da história local e do saber e aprendizado prático do trabalho (seja comercial ou produtivo) transmitido de geração a geração, que tal empreendimento se consolida com tanto êxito e orgulho, como é falado no discurso dos agentes locais. (Milanês, 2019, p. 8)
O termo Sulanca, traduzido como “a helanca que veio do Sul” foi utilizado nos primórdios do Polo de Confecções do Agreste de Pernambuco para designar o tipo de mercadoria que estava sendo produzida por esse aglomerado produtivo, uma mercadoria de baixa qualidade e baixo valor agregado. Ao longo do tempo, o termo foi sendo ressignificado e ampliado, além de representar o tipo de roupa produzido, a Sulanca também passou a denominar práticas produtivas e comerciais, sendo usada para denominar fabricantes de roupas de sulanqueiros e nomear as feiras que escoavam a produção das mercadorias, as feiras da Sulanca. De modo geral, o termo foi acionado para designar mercadorias de baixa qualidade, produção em larga escala e a preços populares que constituem a essência do Polo e para representar o movimento local de produção de roupas que se instaurou no Agreste de Pernambuco, caracterizado pela luta dos atores locais pela sobrevivência a partir da criatividade de transformar retalhos em roupas e a confecção de roupas em um aglomerado produtivo.
No entanto, embora o Polo tenha surgido de sociabilidades próprias, do caráter criativo de seu povo e das estratégias que criaram para sobreviver, sua evolução demonstra um constante processo de absorção de tendências externas, retrata uma tensão constante entre a adaptação aos desdobramentos do capitalismo e a criação de dinâmicas próprias. Nesse sentido, o Polo não pode ser analisado como um mero fenômeno de adaptação ao capitalismo, mais especificamente como um produto do capitalismo periférico, nem pode ser concebido como uma criação exclusiva das sociabilidades dos atores locais. Pois como assinala Véras de Oliveira (2013) há nesse contexto uma tensão entre o moderno e o tradicional, entre o local e o global, entre dinâmicas de sobrevivência e a globalização.
Tal constatação denuncia, portanto, que estudar empreendedorismo nessa realidade não se limita a analisar esse fenômeno como imperativo do capitalismo flexível, que camufla exploração do trabalho com o ideário das pessoas como empresárias de si mesmo (Machado da Silva, 2002) visto que a realidade local não é caracterizada por alto índice de desemprego, perdas de postos de trabalho formal e perda de direitos, já que o Polo nunca atuou dentro da lógica de economia formal e as relações de trabalho sempre tiverem elevado grau de flexibilidade. Nesse sentido, o Polo embora absorva e se adapte a esse discurso, não pode ser explicado só por ele.
Considerando essas tensões entre moderno e tradicional, sociabilidades próprias e adaptação aos desdobramentos do capitalismo, é adequado afirmar que há de uma interligação entre a dinâmica padrão do polo: trabalho domiciliar, familiar e informal, as quais são pautadas pela lógica de trabalho desprotegido, flexível e precário, que resultam em violação de direitos, a existência de jornadas exaustivas de trabalho, condições inadequadas de trabalho; com as configurações de modernização do Polo, como a criação dos centros comerciais que escoam a produção para todo o país, a ampliação da estrutura institucional com a instalação de entidades como Sebrae, Senai, Fiepe, associações empresariais, entre outros. Como resultado, verifica-se a ampliação constante da capacidade produtiva que pode ser retratada nos resultados econômicos expressivos de geração de mais 100 mil empregos e a existência de mais de 18.000 mil empresas (Sebrae, 2013). O Polo saiu, portanto, de uma configuração de produção de baixo valor agregado, para a produção em larga escala, de bases produtivas artesanais para bases tecnológicas. Mas esse desenvolvimento não foi acompanhado pela evolução das configurações de trabalho e formatos de empresa, os quais permanecem na informalidade.
O trabalho informal como modalidade predominante no Polo atua potencializando o trabalho domiciliar e precário. Para as empresas, a informalidade é vista como um fator de estratégia competitiva, que permite a inserção e permanência no mercado via redução de custos produtivos e inexistência de encargos fiscais e trabalhistas. Para o trabalhador, embora ela atue impedindo o acesso a direitos e a proteção do trabalhador, os atores locais significam essa prática como positiva por possibilitar autonomia e liberdade para as pessoas decidirem para quem trabalhar, quantos fornecedores aceitar e como organizar o tempo de trabalho e de vida. Nesse ponto, há uma relação indispensável entre informalidade e empreendedorismo no Polo, pois a informalidade além de favorecer a criação de negócios via redução de custos, se adequar as dinâmicas de flexibilização da economia e das relações de trabalho, atua justificando e confirmando a importância da autonomia, da liberdade, valores associados ao ato de empreender no Polo.
Convém destacar, no entanto, que embora a informalidade retrate o perfil das empresas e das configurações de trabalho, chegando ao patamar de 80% segundo dados do Sebrae (2013), há na prática uma interligação entre o formal e o informal, uma relação dialética entre esses fatores para colocar nos termos de Oliveira (2013). Como demonstra Zannata (2016), muitos empreendedores só formalizam suas empresas para finalidades fiscais, mas permanecem contratando mão-de-obra informal. Além disso, muitos trabalhadores possuem fornecedores formais e informais e estabelecem relações contratuais heterogêneas. Tais fatores demonstram que o informal e o formal estão integrados, embora a informalidade seja padrão e culturalmente reforçada é importante notar que os atores locais se aproximam da formalização em momentos específicos, como quando é necessário promover o crescimento do negócio, acessar mercados mais exigentes, ou quando são fiscalizados e obrigados a se adequarem as leis. Nesse sentido, não há, portanto, uma oposição entre esses aspectos, mas uma relação dinâmica para atender demandas específicas.
No Polo, a informalidade é retratada em termos positivos pelos atores locais, vista como uma ferramenta que favorece a criação de negócios lucrativos. A inserção de trabalhadores não qualificados no mercado é uma visão otimista que contrasta com a visão de miserabilidade amplamente difundida que a concebe como mecanismo de exploração. Tal percepção favorece tanto a criação contínua de negócios como atua mascarando o trabalho precário e as violações de direitos ocorridas nesse contexto.
Além da informalidade, outros fatores atuam favorecendo a criação de negócios no Polo, como a facilidade para se adquirir insumos produtivos, contratar mão-de-obra e o acesso a conhecimentos sobre as práticas produtivas e comerciais, visto que, como as sociabilidades que formam o Polo estão alicerçadas em relações de parentesco e amizade, é comum o compartilhamento de informações, a criação de redes e a ajuda mútua (Souza, 2012). Aliado a esses aspectos, os exemplos de familiares que atuam no setor, a proximidade com pessoas que possuem histórias exitosas e o acesso a experiências e aprendizagens sobre o processo de empreender facilitam a entrada no mercado ao possibilitar o contato com conhecimentos técnicos e tácitos que são repassados ao longo do tempo (Freire, 2016).
De modo geral, a criação de negócios no Polo é influenciada diretamente e positivamente pelas sociabilidades locais que concebem a flexibilidade, a autonomia e a liberdade como dotados de importância fundamental. Esses aspectos, por sua vez, são reforçados pelos desdobramentos do capitalismo atual, o qual se caracteriza pelo incentivo à terceirização, a flexibilização da produção e o incentivo ao empreendedorismo como forma de retirar das empresas o papel e a responsabilidade de garantir direitos e proteção ao trabalhador. Dessa forma, tal dinâmica retrata a tensão constante entre fatores internos e externos. Mas, nesse caso, as sociabilidades locais se adequaram perfeitamente às demandas de mercado, o que atua incidindo consideravelmente sobre a abertura de empresas no Polo. Nesse sentido, é possível dizer que tais aspectos já existiam no Polo desde seu surgimento e agora estão sendo reforçados por fatores externos, com isso, o ato de empreender não pode ser compreendido só como um resultado desse ideário do capitalismo atual.
Corroborando essa constatação, os achados da pesquisa indicam que a questão fundamental no ato de empreender no Polo, são os valores culturais que estimulam a busca pela autonomia, liberdade, protagonismo e sucesso, valores esses que estão presentes tanto nas vivências dos empreendedores como nas trajetórias dos trabalhadores do Polo, que assimilam o trabalho precário não como um fator negativo que deve ser combatido, mas como uma etapa que estimula a abertura do próprio negócio, pois como indica Milanês (2015), no Polo "todo mundo quer ser patrão".
Empreendedorismo no Polo: os diferentes sentidos e motivações
No Polo de Confecções do Agreste de Pernambuco, ser patrão é um ideário buscado por muitos e valorizado pela grande maioria dos atores que atuam nessa economia popular. Tal fator implica um olhar cuidadoso sobre os aspectos que constituem e contribuem para o empreendedorismo local, visto que o Polo é um espaço heterogêneo, que abriga uma multiplicidade considerável de formatos de trabalho e de negócio.
Convém destacar, portanto, que embora o trabalho domiciliar, familiar e informal seja a base que estrutura a organização do trabalho e das relações de produção e comercialização (Véras De Oliveira, 2011), há múltiplas dinâmicas que se desdobram desses fatores, como a existência de fabricos fundo de quintal, de base familiar, a criação de empresas formais que contratam trabalho informal, a existência de facções que prestam serviços para empresas formais mas subcontratam mão-de-obra informal—facções nesse contexto são oficinas de costura que atuam no formato de produção terceirizada, onde as empresas contratam seus serviços para produção de suas mercadorias—, fabricos formais e informais, dentre outros—fabricos são pequenas fábricas de produção própria.
Aliado a esse processo dinâmico e diverso de organização do trabalho, existem múltiplas trajetórias e consequentemente nomenclaturas, para retratar o empreendedor nesse contexto. Dentre os nomes mais usados destacam-se: sulanqueiro, confeccionista, patrão, microempresário, empresário, microempreendedor, empreendedor. Tais nomenclaturas retratam tanto mudanças históricas desse conceito, como revelam também experiências diferentes, onde o termo empresário é comumente associado a quem é dono de uma empresa formal, grande, de sucesso, enquanto os nomes microempresário ou microempreendedor são acionados para designar donos de empresas pequenas, geralmente informais, e sulanqueiro é um termo que carrega uma conotação negativa sendo associado à baixa qualidade dos produtos, à pouca qualificação profissional, embora tenha sido um termo historicamente usado para versar sobre a atitude empreendedora dos atores locais.
Considerando esses aspectos e sem querer se colocar no debate sobre as terminologias adequadas, esse trabalho considera empreendedor no âmbito do Polo, o ator que produz ou comercializa produtos próprios, que criou uma empresa e se inseriu no mercado sem intermediários. Essa escolha além de representar um recorte analítico, retrata também o tipo ideal de empresa que reflete os valores que são atribuídos ao ato de empreender no Polo, como autonomia, liberdade e ascensão.
O termo empreendedorismo por sua vez, é pensado aqui como uma categoria que aciona elementos culturais das vivências dos atores. Nesse sentido, ele não é estudado como um mero desdobramento do capitalismo, visto que não é só o trabalho precário, a informalidade, que atuam incidindo sobre o ato de empreender no Polo.
No Polo, a criação de negócio perpassa necessariamente pelas vivências familiares, de parentesco e amizade, os chamados laços fortes, tal como preconiza Granovetter (2005), os quais atuam facilitando o compartilhamento de conhecimentos tácitos sobre essa atividade econômica e constituem uma rede na qual os atores podem se inserir para conhecer e participar desse mercado. Essas vivências são reforçadas por sua vez pelos laços fracos que os atores estabelecem com empresários já consolidados no mercado, pelos contatos com clientes, fornecedores e demais atores que trocam experiências, aprendizados e demandas similares. Desse modo, é possível concluir que para além das questões econômicas, analisar o Polo requer uma abordagem que considere as sociabilidades, os valores compartilhados e a influência de questões socioculturais nas decisões econômicas. Isso porque abrir um negócio no Polo nunca é um processo só mercadológico, pois, como alerta Granovetter (2007), a estrutura econômica está enraizada nas relações sociais que os atores estabelecem para viver e trabalhar.
Estudos anteriores relacionam o tema empreendedorismo às condições e configurações do trabalho no Polo, aos processos de formalização e a cultura da informalidade (Freire, 2016; Pereira, 2011; Zannata; 2016). Em relação aos processos de formalização, Zannata (2016) argumenta que a formalização nesse contexto de trabalho flexível é feita para atender a fins fiscais, mas na prática, as relações de trabalho são estabelecidas na modalidade informal, fenômeno que ela denominou de "formalização precária", e a cultura da informalidade foi apontada por Pereira (2011) como fator que inibe a adesão dos empreendedores locais a programas de formalização como o MEI. Tais constatações demonstram que as questões estruturais, como a informalidade, são fortemente associadas a questões culturais. Não é possível compreender as diferentes motivações para se empreender sem considerar como os atores locais assimilam essas questões. Nesse sentido, foi possível identificar na pesquisa empírica que os empreendedores concebem a informalidade como um fator competitivo que garante a entrada e permanência no mercado, pois argumentam questões como: "se tivesse que pagar imposto não tinha como produzir" (Empreendedor 09): quando se referem a custos produtivos e também assimilam a informalidade como elemento necessário para as relações de trabalho: "é melhor a pessoa não ser fichada (trabalhar com carteira assinada) porque pode ter muitos fornecedores, ganhar mais dinheiro, trabalhar quando quer" (Empreendedor 07).
No tocante a relação entre as condições e configurações do trabalho e o processo de empreender, Freire (2016), argumenta que o empreendedor sai da condição de trabalhador motivado por fatores culturais, costumes e hábitos assimilados nas experiências de trabalho nas fábricas, para a autora, a criação de negócios é influenciada pelo desejo de autonomia e sucesso. Tal conclusão é citada nas falas dos entrevistados, quando estes relatam que as experiências de trabalho no Polo como funcionários, estimularam a criação de negócios.
Eu trabalhei em muitas fábricas, aprendi tudo que sei nelas, mas eu nunca quis ficar a vida toda trabalhando "pros outro", porque aqui é assim, a pessoa aprende a costurar, a cortar, a vender, pra depois abrir uma confecção, porque é o sonho de todo mundo, e assim, só tendo seu negócio você consegue as "coisa", e tem também né [...], a pessoa não fica recebendo ordem de ninguém, a pessoa que decide os "horário" e tal. (EMPREENDEDOR 08)
Quando eu comecei nesse ramo eu fui trabalhar numa facção, mas achava muito ruim porque não tinha dia de costurar, era quando a empresa mandava peça, aí tinha dia que tinha trabalho, e tinha dia que eu ficava desocupada, aí eu nem ganhava muito e quando as peças chegava tinha que trabalhar muito em pouco tempo. Pronto, isso foi uma das coisas que me fez trabalhar pra mim. (EMPREENDEDOR 06)
A pessoa começa a trabalhar para os outros pra ir aprendendo, depois que aprende, oxé, eu duvido querer ficar (risos), trabalhar pra pessoa é bom demais, dá mais trabalho né, mais também você não tem que depender de ninguém. (EMPREENDEDOR 03)
Corroborando essa abordagem, Souza (2012) argumenta que o trabalho assalariado no Polo é um processo transitório para a abertura do negócio próprio. Nesse sentido, ocorre o que Milanês (2015) argumentou: no Polo "todo mundo quer ser patrão", esse ideário mostra que a questão central é que ser patrão traduz um ideal de vida, qual seja: autonomia, liberdade, ascensão econômica e social e é esse ideal que incita e reforça o empreendedorismo como prática desejada. A motivação para ser patrão, para trabalhar por conta própria, é, portanto, um valor cultural que tem sido repassado de geração para geração (Milanês, 2015; Souza, 2012).
Milanês (2015) enfatiza que essa percepção retrata a formação histórica do Polo que tem sua gênese nas vivências no campo, na transição do trabalho rural para o trabalho de costura, onde valores típicos do campesinato como trabalho familiar, valorização do tempo, autonomia e liberdade foram assimilados e assumidos pela nova economia que surgia, a confecção de roupas nos espaços urbanos.
Nesse sentido, para os atores locais inseridos nesse mercado como trabalhadores autônomos, 80% dos trabalhadores, segundo dados do Sebrae (2013) é preferível ganhar menos, não ter direitos, mas fazer o seu horário, decidir sua rotina e arriscar ter um negócio, enriquecer. O trabalho formal nesse contexto, é visto como submissão, perda de autonomia e nesse processo a informalidade é retroalimentada e significada como fator positivo e até necessário para garantir essas dinâmicas flexíveis e livres de regras rígidas como foi mostrado nas falas dos entrevistados. É nesse ponto que o empreendedorismo por necessidade se insere, e a sobrevivência é confundida com empreendedorismo, mesmo que os atores inseridos nesse contexto não tenham essa percepção, pois como foi mostrado nas suas falas, eles se consideram empreendedores e atribuem ao ato de empreender, uma conotação positiva.
A partir desses estudos e considerando as narrativas dos empreendedores entrevistados, cabe destacar que as trajetórias empreendedoras se alicerçam em percepções positivas sobre o trabalho autônomo, se assentam nas dinâmicas produtivas de base familiar, domiciliar, onde a ajuda, a colaboração e os contratos informais se estabelecem e se reforçam com as narrativas positivas sobre empreendedorismo amplamente disseminadas no âmbito local, portanto, as experiências de vida, embora diversificadas, convergem nesses aspectos gerais.
Não troco meu fabrico por emprego nenhum com carteira assinada. (EMPREENDEDOR 04)
Eu comecei a fabricar com a ajuda das minhas tias, elas tinham um boxe na feira, me deram uns tecidos, aí eu comecei. (EMPREENDEDOR 02)
Influencia muito a pessoa ouvir falar bem do Polo, as notícias que aqui é bom pra abrir um negócio, que qualquer um consegue, é um estímulo grande. (EMPREENDEDOR 10)
De modo geral, os achados da pesquisa apontam para a existência de três motivações principais para se empreender no Polo, é importante destacar que essa pesquisa é exploratória e que é necessário um aprofundamento nas análises sobre as trajetórias empreendedoras para considerações mais assertivas, é necessário dizer também que são necessárias novas abordagens para contemplar atores com perfis e vivências diferentes, como médios e grandes empresários, para ampliar as análises sobre as decisões de se empreender no Polo e seus respectivos sentidos, isto porque nessa pesquisa foram abordados apenas pequenos empreendedores, formais e informais com vistas a abarcar a relação entre empreendedorismo e sobrevivência.
Sobre as motivações para se empreender identificadas na pesquisa, é possível concluir que o empreendedorismo para os atores abordados reflete: 1) assimilação e aceitação do discurso neoliberal de "empresário de si mesmo"; 2) o ato de empreender como necessidade devido as limitações estruturais materializadas em trabalho precário e informalidade; 3) e empreendedorismo como valor construído pelas sociabilidades próprias do Polo que se manifestam pela busca de autonomia econômica, liberdade para fazer seu tempo e organizar o trabalho e ascensão e protagonismo social.
Essas motivações principais apresentam algumas características importantes: a) elas se inter-relacionam, ou seja, embora sejam preponderantes em trajetórias empreendedoras específicas elas atuam em conjunto, dessa forma é coerente afirmar que nenhum ator decide empreender considerando só uma motivação, embora elenquem a motivação principal e a relação dela com as demais, os resultados indicam portanto, que quem empreende por necessidade também concebe o empreendedorismo como um valor, quem adota a noção de "empresário de si mesmo" reforça tal noção com as sociabilidades do Polo que enaltecem o ato de empreender, e quem empreende a partir dos valores culturais associados ao empreendedorismo também considera as limitações estruturais e aceita o ideário neoliberal que preconiza que cada um é responsável por seu sucesso; b) tais motivações refletem momentos específicos das trajetórias empreendedoras, isto porque quem empreende a partir da noção de "empresário de si mesmo" são os empreendedores novatos, que entraram no mercado justamente quando esse discurso estava em evidência e os empreendedores antigos, relatam questões estruturais e culturais como motivadoras para abrir um negócio; c) e todas as trajetórias estudadas, identificam o empreendedorismo como um valor que garante autonomia, ascensão social e liberdade econômica, mesmo os empreendedores que empreendem por necessidade associam as limitações estruturais como salários baixos, trabalho precário como estímulos para se empreender, como solução para tirá-los da condição de trabalho precário para a condição ideal de empreendedor.
O processo de criação de negócios no Polo de Confecções do Agreste de Pernambuco assume, portanto, diferentes sentidos por estar alicerçado em múltiplas motivações. Os resultados da pesquisa indicam que é equivocado atribuir somente às questões estruturais, como informalidade, trabalho precário, a decisão para se empreender nessa economia, como é igualmente equivocado concluir que tal processo se deva exclusivamente à adequação dos atores locais ao discurso neoliberal, que preconiza o ideário do homem como empresário de si mesmo. Ainda que tais narrativas estejam também presentes na decisão para se criar um negócio, assumir que elas por si só explicam o empreendedorismo local é desconsiderar o fato que os atores locais já empreendem desde o surgimento do polo, na década de 50. Aliado à esse dado histórico, está a valorização do empreendedorismo como ideal de vida nesse contexto, ideal esse, alicerçado nas noções de autonomia, liberdade, ascensão e protagonismo. Nesse contexto, portanto, abrir um negócio é algo muito além de objetivos econômicos, é um aspecto relativamente autônomo do sistema capitalista e é um valor coletivamente compartilhado e historicamente reforçado. Conclui-se, portanto, que a motivação principal é a concepção do empreendedorismo como um valor cultural, um ideal de vida e essa motivação dialoga, se conecta e se integra tanto com os fatores estruturais, como com as influências do discurso neoliberal de empresário de si.
Considerações Finais
A investigação empírica indica a existência de três motivações principais: a) o empreendedorismo como assimilação do discurso neoliberal de “empresário de si mesmo”; b) empreendedorismo por necessidade devido a conjuntura de informalidade e trabalho precário e degradante e; c) o empreendedorismo como um valor construído por sociabilidades próprias dos atores locais, que inspira autonomia econômica, liberdade financeira e protagonismo social. Os achados indicam a existência de diferentes motivações para se empreender que refletem por sua vez tanto questões estruturais como questões culturais e simbólicas, tais resultados demonstram a importância dessa Economia Popular e indicam a necessidade de novos estudos para aprofundamento das reflexões.
É importante ressaltar também que essas motivações se inter-relacionam e refletem momentos específicos das diferentes trajetórias dos empreendedores, isto porque ficou evidente que o discurso neoliberal de empresário de si mesmo é fator decisivo para aqueles empreendedores que começaram seus negócios recentemente, o que converge com o fato da disseminação desse discurso ser atual, já os empreendedores que abriram seus negócios há mais tempo são motivados pelas questões estruturais e culturais, e em muitos casos essas motivações estão imbricadas. Porém em todas as trajetórias relatadas é possível identificar o empreendedorismo como um valor que garante autonomia, ascensão social e liberdade econômica, isso é perceptível mesmo quando os atores relatam questões estruturais como motivadores para empreender, como salários baixos, informalidade, trabalho precário, pois eles retratam o empreendedorismo como uma solução para sair dessas situações desfavoráveis.
Dessa forma, é possível indicar, que o dinamismo econômico, a capacidade de geração de emprego e renda e a possibilidade de se trabalhar por conta própria, sem patrão e conquistar autonomia, são fatores preponderantes na decisão para se empreender. Tal fator reflete por sua vez as sociabilidades construídas nas trajetórias desses atores nas suas vivências no Polo. Dessa forma, é coerente assumir que todas as experiências nessa economia incitam a abertura de negócios, desde o trabalho precário, instável, sem garantia de renda, com salários baixos e pouca projeção profissional, até o contato com experiências exitosas e a assimilação de discursos positivos sobre o empreendedorismo atuam influenciando as pessoas para abrirem seus negócios, serem donos de si mesmo, isto porque, quem vivencia trabalho precário quer empreender para sair dessa situação e o contato com casos de sucesso e a proximidade com familiares e amigos que conseguiram abrir um negócio e permanecer no mercado estimulam as pessoas a percorrem o mesmo caminho. Alia-se a isso o fato do Polo dispor de todos os insumos produtivos necessários para se abrir uma confecção, ter estrutura comercial para as vendas e os atores locais terem os conhecimentos necessários para executar as atividades produtivas e comerciais necessárias para a inserção nesse mercado.
É possível deduzir, portanto, que o alto índice de informalidade, o trabalho flexível, desprotegido e precário, são assimilados como elementos limitantes, mas não totalmente negativos, pois os atores locais enfatizam que aspectos como liberdade, fazer seu próprio horário, são mais relevantes e até compensatórios da falta de direitos e estabilidade, tais experiências, por suas vez acabam favorecendo a decisão para se abrir um negócio.
Considerando a indagação sobre empreendedorismo ou sobrevivência, os achados da pesquisa indicam que os atores locais atribuem sentido positivo ao ato de abrir um negócio, mesmo quando são motivados a se tornarem empreendedores devido a questões estruturais, como trabalho precário, dessa forma, esses atores empreendem também para sobreviver devido as limitações do mercado, mas não fazem isso contra a vontade, por ser a última opção, mas fazem por considerarem a melhor opção. Contudo, convém enfatizar que dada as configurações dessa economia, que é informal, alicerçada em trabalho precário, empreender nesse contexto reflete mais estratégias de sobrevivência, de participação no mercado, do que decisões empresariais de aproveitamento de oportunidades de mercado como preconiza o ideal empreendedor, mesmo que atores locais concebam o ato como uma decisão deliberada e positiva, na prática estão apenas lutando para participar dessa economia em condições mais favoráveis.
Referencias
Andrade, T. (2008). A estrutura institucional do APL de confecções do agreste pernambucano e seus reflexos sobre a cooperação e inovação: o caso do município de Toritama [Tese de mestrado]. Universidade Federal da Paraíba.
Cabral, R. (2007). Relações possíveis entre empreendedorismo, arranjos organizacionais e institucionais: estudo de casos múltiplos no Pólo de Confecções do Agreste Pernambucano [Tese de doutorado]. Universidade Federal da Bahia.
Freire, C. (2016). Da sulanca à fábrica : configurações do trabalho no polo de confecções de Pernambuco [Tese de doutorado]. Universidade Federal de Campina Grande.
Granovetter, M. (2005). The impact of social structure on economic. Journal of Economic Perspectives, 19(1), 33–50.
Granovetter, M. (2007). Ação econômica e estrutura social: o problema da imersão. RAE-eletrônica, 6(1). https://doi.org/10.1590/S1676-56482007000100006
Machado, L. A. (2006). Da Informalidade À Empregabilidade (reorganizando a dominação no mundo do trabalho). Caderno CRH, 15(37). https://doi.org/10.9771/ccrh.v15i37.18603
Milanês, R. B. (2015). Costurando roupas e roçados: as linhas que tecem trabalho e gênero no Agreste pernambucano [Tese de mestrado]. Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro.
Oliveira, F. (2003). Crítica a razão dualista: o ornitorrinco. Boitempo,
Pereira, J. N. (2011). O Programa Empreendedor Individual e as estratégias de formalização das atividades econômicas no Polo de Confecções do Agreste Pernambucano [Tese de mestrado]. Universidade Federal de Campina.
SEBRAE. (2013). Estudo econômico do Arranjo produtivo local de Confecções do Agreste Pernambucano. SEBRAE.
Souza, A. M. (2012). “A gente trabalha onde a gente vive”: A vida social das relações econômicas: parentesco, “conhecimento” e as estratégias econômicas no Agreste das confecções. [Tese de mestrado]. Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Véras de Oliveira, R. (2011). O polo de confecções do agreste pernambucano: ensaiando uma perspectiva de abordagem. In: A. M. Carneiro Araújo & R. Veras de Oliveira (Eds.), Formas de trabalho no capitalismo atual: condição precária e possibilidade de reinvenção. São Paulo: Annablume.
Xavier, M. (2006). O processo de produção do espaço urbano em economia retardatária: a Aglomeração Produtiva de Santa Cruz do Capibaribe (1960 – 2000) [Tese de doutorado]. Universidade Federal de Pernambuco
Zanatta. M. S. (2016). Quando o fabrico se torna fábrica: desdobramentos do processo de formalização dos empreendimentos industriais de confecções em Caruaru/PE [Tese de doutorado]. Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
Sobre o autor
Virgínia Conceição Vasconcelos Carneiro (virginiavasconcelosv@gmail.com) es estudante de doutorado na área de Ciências Sociais da Instituição UFCG (Brasil) desde 2020. Possui Mestrado na área de Administração no Mestrado de Administração da UFPE (Brasil) desde 2013, e é graduada em Ciências Econômicas pela instituição Unifavip (Brasil) desde 2010 (ORCID 0000-0001-6760-339X).
Recibido: 26/05/2022
Aceptado: 06/07/2022
Cómo citar este artículo
Carneiro, V. (2022). Empreendedorismo ou sobrevivência: uma análise das motivações para se empreender no Polo de Confecções do Agreste de Pernambuco. Caleidoscopio - Revista Semestral de Ciencias Sociales y Humanidades, 26(47). https://doi.org/10.33064/47crscsh3730
Esta obra está bajo una
Licencia Creative Commons Atribución-NoComercial-CompartirIgual 4.0 Internacional
Usted es libre de compartir o adaptar el material en cualquier medio o formato bajo las condiciones siguientes: (a) debe reconocer adecuadamente la autoría, proporcionar un enlace a la licencia e indicar si se han realizado cambios; (b) no puede utilizar el material para una finalidad comercial y (c) si remezcla, transforma o crea a partir del material, deberá difundir sus contribuciones bajo la misma licencia que el original.
Resumen de la licencia https://creativecommons.org/licenses/by-nc-sa/4.0/deed.es_ES
Texto completo de la licencia https://creativecommons.org/licenses/by-nc-sa/4.0/legalcode